quarta-feira, 6 de julho de 2011

Carta de uma detenta da Penitenciaria Feminina de Sant'Ana em São Paulo, Brasil.


Não tenho a pretensão aqui de tentar encontrar ou registrar palavras corretas, a idéia é apenas 

fazer com que o retorno desse sentimento se manifeste e fique
 impresso. Estado de graça, isso o que sinto, como se eu 
estivesse levitando, paz, equilíbrio, harmonia e uma tocante e
 irresistível gratidão.
Agradeço aqui imensamente esse encontro, essa celebração entre eu, Jorge, Silvia e Laercio.
Agradeço por ser convidada a participar do “banquete” e por ser apresentada a Prem Rawat 
que me despertou dessa hibernação de trinta e sete anos. Tão simples, absurdamente simples e me faz relembrar que tudo sempre esteve aqui comigo o tempo todo. Posso afirmar: algo foi tocado. Quero receber esse Conhecimento que sei que é inerente ao meu ser, não sei se posso dizer que seja um renascimento ou se estou me encontrando com o meu e que deixei de lado, deixei de ouvir, deixei de respirar.
Estou tocada, comovida e extremamente sensível. O “véu” foi retirado e então o Sol ficou mais belo, o ar ficou mais leve a vida está em festa e tudo está em mim.
Celebração. Celebrar a vida e esse instante, porque ele existe e eu estou aqui fazendo parte disso e não estou só.
Energia renovada? Não sei se é isso, mas não quero explicar, esse momento é verdade, não quero buscar explicação, quero sentir, sentir, sentir e sentir...

Meu coração está pleno e no mais puro paradoxo transborda de leveza.
Meu sorriso está no rosto, nos olhos e estou alegre e livre.
Quero estar livre, não estou com pressa, não estou com dúvidas, não estou confusa. Volto para a “casa” é essa a sensação, estou voltando a um lugar que sempre foi meu, paraíso!
Não há dúvidas, esse é o caminho, pois manifesta em mim a certeza de querer estar aqui, ne
ssa condição, nesse estado de graça, de ternura e mansidão.
Não estou buscando acreditar em nada, aliás, pela primeira vez eu não estou buscando nada, apenas fechei os olhos e estava lá, todo o tempo, pulsando, vibrando, inexplicável, mágico realmente mágico.

Não quero pensar, quero que tudo flua dessa forma naturalmente, não quero buscar palavras, quero apenas que tudo seja exatamente assim, sem culpa, sem temor, sem insegurança, sem pretender nada, quero esse sentimento puro que “jorra” no meu peito e transborda ao meu redor e faz tudo ser preenchido de plenitude.
A visão que tenho nesse instante é da criança que olha para o objeto de desejo e pede e esse pedido não possui incerteza, é feito com a certeza de já possuir aquilo que é desejado. Estou assim, na certeza de ter recebido o que desejava. A palavra é essa possuir, estou possuída de luz.

Devo falar do que aconteceu dias antes desse meu encontro.
No domingo, dia 26/06 de madrugada, estava na minha cela e um desespero, um vazio avassalador já estava permeando os meus dias, resolvi falar com Deus, então disse: “Pai, me faça encontrar um caminho que não tenha dúvida, que me faça acreditar. Toque no meu coração e me faça sentir a v
erdade que eu não sinto. Não está funcionando assim, eu preciso de algo novo, eu preciso que meu coração saia dessa escuridão. Pai eu sei o que desejo. Faça acontecer”.
Então, na segunda-feira 27/06, o Jorge me falou: “Deixe tudo arrumado, pois estaremos aí amanhã com algo diferente”.

Na presente data, terça, fomos convidados a um “projeto”, conversei com o Jorge e sentei para assistir o que eu achava ser um simples DVD, então a mágica, pela primeira vez ouvi e senti aquelas palavras doces, simples, iluminadas de Prem Rawat, nunca havia sentido nada igual. Minha vontade era ouvir mais, então queria ouvir, queria saber e me deleitei com tudo.
Foi a primeira vez que ouvi, mas a sensação não foi essa, foi a de ter encontrado e reconhecido o que me é tão familiar, muito familiar.
Posso representar como uma escavação, saberia que aquele fóssil existe e está lá, mas para achá-lo é preciso escavar lá no fundo e retirar da terra o que estava apenas oculto, mas que é real e existe e colocá-lo em exposição para ser visto, tocado, sentido, então concluo houve uma escavação em mim e muitos sentimentos foram levados à tona, eu reconheço e sinto exatamente isso.

Poderia ficar escrevendo por muitas páginas, estou maravilhada, estou grata, o tempo não está presente neste instante, apenas a sensação, o coração e a respiração.
Gratidão por esse momento, por todas essas pessoas que chegaram nesse exato momento
. Não poderia ser em nenhum outro momento.
Estava tão confusa...e agora estou em paz.
A turbulência passou e estou serena, estou calma e estou consciente que encontrei o caminho e quero estar nesse lugar.
Obrigada por estarem nesse presídio, obrigado por fazerem essa mágica acontecer, por fazer isso possível,  isso é verdade, é amor, é paz e luz.

Obrigada, obrigada, obrigada...
Estamos juntos e estamos vivos.
Cristiane