quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A fibra da vida

Não faz muito tempo, fui a um funeral. No cemitério, havia aquelas pequenas lápides: “Aqui jaz. . .” Simplesmente precisei parar. Não se trata de uma lápide, mas de uma história. Há uma pessoa que esteve viva. Aconteceram coisas boas e coisas más. Houve dias difíceis e dias tranqüilos; dias de confusão e dias de clareza. Houve dias favoráveis para essa pessoa e dias de adversidade. Houve uma jornada.

Qual é a diferença entre mim e essa lápide? Sou mais do que uma lápide com um nome, algumas datas e umas poucas mensagens inscritas? A vida não é mais do que isso?

Não há essa coisa chamada existência que se ergue acima de tudo? Acima de tudo o que é bom e tudo o que é mau, do certo e do errado - de todos os julgamentos? Não há uma bondade em estarmos aqui? Não é especial que haja este momento em que estamos vivos? Em que medida eu reconheço este momento? Com o que estou preocupado hoje? Com as coisas que vão acontecer? Estou minimamente preocupado com algo que é mais fino do que o cabelo mais fino - que não pode ser mensurado em termos de largura, altura e peso - e é a única diferença entre mim e a lápide? Você sabe o que é? É a respiração que entra e sai de você. Essa é a diferença.

Não é possível fotografá-la, pintá-la, fazer uma estátua, não se pode dar, comprar, trocar nem vender. E faz toda a diferença quanto ao que você é. É porque ela vem que você é o senhor Fulano, senhora Fulana, senhorita Fulana, doutor Fulano, capitão Fulano, professor Fulano. É porque ela vem que você é capaz de entender, questionar, raciocinar, observar, aprender. Graças a essa dádiva chamada respiração.

As pessoas dizem “Sou pai, sou mãe." Você é um ser humano. Você é um ser humano. Não vemos seres humanos; vemos outras coisas. Estou falando da presença, da beleza que está dentro de você. Por meio da qual você tem tudo, sem a qual você não tem nada. Isso é real. Isso é simplicidade.

Há uma paz, sem a qual perderíamos a própria fibra de que somos feitos. Uma paz que dança no coração de todos. É dessa paz que eu falo. A realidade. A beleza. A verdadeira paz - não a ausência de algo, mas a própria presença de algo. Isso é que é possível, até mesmo em plena guerra. Uma paz que não pode ser perturbada. Essa paz é verdadeira. É uma paz que não pode ser tirada - essa liberdade é verdadeira.

Comece a reconhecer esta existência do modo mais simples possível - indo para dentro de você. Não a partir de idéias, mas do entendimento. Não mensurando com escalas de "eu não tenho", mas entendendo aquilo que você tem. O que você tem está bem aí dentro de você, e é tudo. Quero dizer tudo mesmo. E estará aí até o fim.

Para mim, esta é a minha oportunidade. Esta é a minha vez, a minha chance, porque estou vivo. Minha jornada continua, e eu aprendo. Sou grato por cada dia. É meu privilégio, minha alegria, minha honra, lembrar às pessoas... ir pelo mundo e falar às pessoas da possibilidade de estarmos em paz.

Prem Rawat

http://www.wopg.org/   http://www.palavrasdepaz.org.br/


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Tão próximo

Quando os homens erguem monumentos para suas realizações, eles diminuem as pessoas. Quando as pessoas se vêem diante desses altos edifícios, elas se sentem pequenas. Precisam erguer o olhar para vê-los e se acham diminutas em comparação. Isso se chama magnitude.

Mas naquilo que o coração cria, o monumento é proporcional à pessoa. Dentro de você é que está a magnitude, diante da qual somos tomados de admiração. É com o ser que precisamos ser tomados de admiração. Ele é o recipiente de onde vem o amor.

A paz não vai se manifestar numa parede. Vai se manifestar dentro da pessoa. É onde mais precisamos dela. É a falta de paz interior que causa as guerras do lado de fora. Quando a paz se manifesta dentro de nós, começamos a compreender o que ela significa.

A paz precisa ser sentida. A alegria precisa ser sentida. A verdade não se encontra nas palavras. A verdade é um sentimento. A verdade suprema está dentro de nós, e a realidade suprema se desenrola na nossa frente. Estamos aqui. Essa é a verdade. Nós existimos. Podemos sentir. Podemos entender. Podemos nos sentir preenchidos.

A vida precisa ser aparente. Não é algo que podemos fazer à parte. A clareza também precisa ser aparente para nós, não apenas para algumas pessoas que têm a responsabilidade de "serem claras". Digo que é preciso andar com as próprias pernas. Dizem que sou controvertido. Sei o que isso significa, mas interessei-me por ver como o dicionário define essa palavra. Basicamente, significa a pessoa que vai no sentido contrário.

Eu vou em outra direção, mas não simplesmente para ir contra a multidão. Não posso me dar ao luxo de ser temerário nesta vida. Cada respiração é preciosa demais. Cada momento da vida é precioso demais. Não posso me dar ao luxo de correr riscos. Preciso seguir na direção que sei que devo ir, e seguir com clareza, não com ambiguidade.

Como é que eu sei? Tenho uma bússola, e a essa bússola dou o nome de coração. É uma bússola maravilhosa. É precisa e muito real. Aponta na direção da vida. As pessoas perguntam se me refiro a ouvir vozes interiormente. Não, o coração não diz que tipo de carro comprar.

O coração é o grito, o chamado que diz "Sinta-se preenchido. Mate essa sede. Viva de modo consciente. Aproveite tudo o que a respiração traz, o mais que puder. Viva. Exista."

Certas pessoas têm a "síndrome de avestruz". Cavam um buraco, enfiam a cabeça dentro e acham que os problemas irão embora. Isso não é viver. Viver é quando sentimos de dentro para fora a alegria de estarmos vivos.

Aquilo de que falo tem a ver com estarmos todos em paz. Essa é a prioridade. Não há substitutivo para isso. Precisamos ter paz na vida. Essas palavras não são vazias. Isso é real. Essa possibilidade é muito, muito real. Deixe que seu coração seja o juiz. A que distância você está dele? Ele está dentro de nós. Tão próximo. Aquilo que todos procuramos em última instância está dentro de nós.

Prem Rawat




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