sexta-feira, 12 de março de 2010

As estações

Essa é uma trégua incrível. Um acordo que as árvores fizeram com a Natureza. Elas são uma parte da Natureza e assim mesmo, para viver nela, as árvores tem que fazer algumas adaptações. E elas fazem-nas.

‘Nós nos prepararemos para o inverno. Nós deixaremos cair tudo que julgamos por tanto tempo ser tão precioso. Tão precioso. Tão importante. Para que possamos sobreviver neste inverno.’ Elas sabem, a sua maneira, que a primavera voltará novamente. E chegará a hora, mais uma vez, de começar um outro processo para desabrocharem aquelas folhas novamente e continuar o ciclo uma e outra vez mais, durante o tempo que elas estarão aí.

Talvez não vejamos o que realmente esteja acontecendo, porque tudo acontece muito lentamente. Talvez não pensemos nisso como paz. Mas aquelas árvores fizeram as pazes com o inverno e com todas as estações. Ao fazer essa paz, possibilitam a si próprias de continuarem. É uma incrível sabedoria que se desenvolve e que necessita de uma incrível confiança. Você poderia perguntar para aquelas árvores: Por que vocês estão deixando cair as vossas folhas? Como sabem que a primavera virá?

Você e eu provavelmente estaríamos muito desconfiados e pensaríamos que isso talvez não tenha tanta sabedoria. É assim que somos. Como é que você sabe que o verão não vai continuar por mais alguns poucos meses? Como é que você sabe que haverá um inverno que vai requerer que você se desfaça de todas as suas folhas? Se você se arrisca e não se desfaz de suas folhas você poderia estar na frente do jogo. Mas isso não tem nada a ver com fazer a paz. Fazer a paz é ter confiança, e essa confiança está lá em todas as árvores que mudam as suas cores e iniciam o processo de deixarem as folhas cair.

Se você já viu esta magnífica cena, tal magnífico desenrolar da confiança, o que você aprendeu com as pequenas folhas que mudam de cor a cada outono? O que você compreendeu? Como é que você se encaixou com isso? E claro, isso pede uma pergunta: Você também já fez a paz na sua vida? Já aprendeu as coisas essenciais de que precisa saber? Já entendeu o básico da existência?

Eu faço essas perguntas porque eu tenho recebido um prêmio único. Uma situação única. Minha existência. Como você tem recebido a sua. Nós somos incrivelmente únicos. Cada pessoa é única. Não existe ninguém como você, ninguém em todo este mundo. Não há nenhuma dúvida se você existe ou não. Você existe. Não existe dúvida enquanto você estiver vivo.

Você está vivo. A respiração vem até você, e a respiração vai. Você tem consciência, você pode pensar. Você pode sentir. Você pode compreender, admirar, apreciar. Pode ficar machucado, sentir dor, você pode sofrer. Você pode desfrutar. Todas esses elementos, sofisticados, minimamente falando, foram comprimidos em você. E para completar isso de forma elegante e organizada, nós estamos limitados pelo tempo.
Quando vai tudo terminar? O fim da caixa está para além do nosso alcance de visão. Mas sabemos que está lá, em algum lugar. Apenas não conseguimos ver.

Cada dia chega, e cada dia chega a respiração. Tudo de que precisamos para uma vida inteira. Não temos de ver o futuro. Tudo aquilo foi levado em conta para nós. Tudo é colocado no agora. E o agora é a única coisa com que precisamos nos relacionar. Por que não confiamos no agora? Nós queremos confiar no amanhã, entretanto o amanhã nunca chega. Porque se ele decide de chegar, ele deve chegar como o agora. E aqui, neste momento, a vida está dançando uma linda dança. Em reverência a essa criação. Em reverência a esta magnífica, embora simples, beleza da existência. Aqui ela está. Aqui estão desabrochando todas as flores da vida. Isso não é algum retrato.

Prem Rawat


Fonte - http://www.innerlink.tv

Image © Michael B Wood | www.mbwoodphotography.com