quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A terra das possibilidades

Certa vez ouvi dizer que quando os pássaros gorjeiam estão apenas marcando território. "Isso é meu, isso é meu, vá embora, isso é meu." A certa altura, a coisa muda. "Tem alguém aí? Estou procurando uma companheira." Depois, de repente, ficam em silêncio porque estão se alimentando. Depois, dão um cochilo e, em seguida, tudo recomeça. Comem mais um pouco e lá vão de novo "Isso é meu, isso é meu, isso é meu". À noite, eles dormem.

E nós? Fazemos a mesmas coisas? "Isso é meu, isso é meu, isso é meu. Meu dia, preciso fazer isso, preciso terminar tal coisa. Minha agenda, meus e-mails, meu isso, meu aquilo."

Qual é nossa possibilidade? Àqueles que têm um corpo humano são capazes de sentir paz, de sentir a alegria suprema. A possibilidade que temos é a de poder ter contentamento e, mais do que isso, sentir gratidão.

A nós foi dada uma possibilidade infinita, e, com essa possibilidade infinita, o tempo para materializá-la—o tempo para torná-la real, para senti-la, para estarmos plenos. Perder-se é uma possibilidade, e ter paz é também uma possibilidade. Entender é uma possibilidade, e não entender é uma possibilidade.

O que fazemos com essa possibilidade? Saímos pela tangente. Precisamos de paz na vida. O que fizemos para para alcançá-la? Pensamos que, de algum modo, a paz vai acontecer, e então vai estar aí para todo mundo. Mas ninguém pode dizer que, a hora do almoço terminando à 1:00, isso significa que todos estarão alimentados. Não é assim que funciona. Só aqueles que tiverem comido é que não terão mais fome. Os que não comeram, independentemente da hora, estarão famintos. O fato de um poço ter sido escavado em algum lugar não acaba com a sede de todo mundo. Somente aqueles que tiveram o benefício de beber água saciarão a sede. Não funciona de outro modo. É uma experiência pessoal.

Por que as pessoas dizem que os países precisam de paz? É o país ou as pessoas que precisam de paz? Nossa eufórica idéia de paz talvez não seja possível, mas todo ser humano na face da Terra pode sentir paz - isso é possível. Por quê? Porque a paz de que falo já existe dentro de cada um. Só é possível por esse motivo. Não é uma questão de distribuição. A sede de paz existe no interior das pessoas, a paz existe no interior das pessoas. Nada precisa ser produzido. Se houvesse uma máquina que fabricasse a paz, seria de imaginar a tentativa de levá-la de um país para outro, passar pela alfândega?

Tudo o que você precisa fazer é voltar-se para dentro e aceitar a possibilidade que lhe foi dada. Todos os dias. Pensamos que, uma vez tendo paz, é só isso? Não. É assim com a respiração? Você tem crédito para o resto da vida pelo fato de ter respirado uma vez? Não. É preciso respirar, é preciso fazer esse esforço todo dia, a todo momento.

Prem Rawat

http://www.wopg.org/. http://www.palavrasdepaz.org.br/

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Aquarelas de Sonia Madruga