sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A alegria de viver

As pessoas dizem que querem paz. Depois perguntam: "Como ter paz?" Esquecem-se de onde a paz está. A paz sempre esteve dentro de nós. Aquilo que temos procurado é o modo de acessar essa paz. Mas na busca da ferramenta, nos distanciamos cada vez mais da realidade fundamental de onde a paz está, onde a alegria está, onde o preenchimento está.

Quando digo às pessoas "O que você procura está dentro de você", isso sempre soa como surpresa. Elas reconhecem que sabiam disso, mas sempre procuraram em outro lugar.

A idéia de que está dentro tornou-se estranha para nós. Pensamos: "Não pode estar dentro de mim. Algo tem que acontecer. Alguém tem que surgir. é preciso ler algum livro. É preciso fazer uma peregrinação. É preciso participar de um seminário. Algo assim tem que acontecer e, então, talvez eu possa ter paz."

Freqüentemente faço a seguinte analogia: para compreendermos o valor da água, é preciso compreender a sede. Se você não tem sede, fica muito difícil compreender o que significa a água. Hoje em dia a água vem em diversos tipos de garrafas. Há empresas que promovem seu produto como "a água das montanhas, a água que é boa para você, a água da garrafa azul, a água da garrafa verde, a água da garrafa incolor. Nada disso revela o que é a água. A água não tem a ver com a cor da garrafa. A água, no que me diz respeito, tem o dom de saciar a sede. Isso é que é o mais importante.

Na Europa, a quem for a um café e pedir água perguntarão: "Com gás ou sem gás?" Quando não está com sede, você pensa a respeito e talvez pergunte: "Tem água francesa? Tem água espanhola?". Mas a água, para mim, é mesmo para matar a sede. Tem também outros usos, vem em rios, represas, no mar, tudo isso, mas estou falando da água que tem a capacidade de saciar a minha sede.

Somos pegos, e nosso foco se torna: "Minha sede será saciada por água gelada? Água destilada? Em garrafa verde ou garrafa azul? Francesa? Alemã? Inglesa?" E toda a conversa que inevitavelmente se segue resulta do fato de as pessoas terem esquecido, e realmente esqueceram, para quê serve a água.

Aonde quer que se vá há pessoas como nós. Estão vivendo suas vidas, assim como nós. Estão procurando do lado de fora as respostas que estão dentro, assim como nós.

Volte para a mais simples das possibilidades, o mais simples dos entendimentos: o entendimento de você mesmo. Muita gente diz: "Você fala de paz, mas o mundo é tão louco. Como pode haver paz neste mundo?" Concordo que o mundo seja louco, mas o assunto aqui não é o mundo. O assunto é você.

A questão aqui não é o mundo; a questão é você. A questão não é a rotação da Terra. A questão é o ir e vir da respiração neste receptáculo. A questão não é a sede do lado de fora. A questão é a sede do lado de dentro.

O que importa são as pessoas. É você que importa. É em você que o presente da respiração chega. É em você que há consciência. É você que pode ver o bem e o mal. Em você reside a capacidade de apreciar. Em você reside a capacidade de desfrutar.

Onde quer que você tenha estado na jornada da vida, você sempre carregou dentro de si uma grande caixa cheia de alegria. Essa é a alegria que você pode contactar. E se quiser fazer isso, será sua jornada pessoal. Não poderá estendê-la a ninguém mais. É muito pessoal, é uma jornada interior.

Há uma alegria, e é a alegria da existência, não do que está acontecendo na existência. São duas coisas diferentes. Há a alegria da existência e a alegria do que está acontecendo na existência. O que está acontecendo na existência nós tentamos controlar e manipular.



Às vezes as coisas saem como queremos. Às vezes, não.

Mas há uma outra alegria. Uma alegria que esteve presente ao longo de todos os anos da vida, à espera de ser descoberta. E essa alegria estará lá enquanto você viver. É a simples alegria de estar vivo.

Na minha vida, há dias bons e dias maus. Os dias que considero bons são aqueles em que tudo sai de acordo com meus planos. Os dias em que as coisas não acontecem de acordo com meus planos eu considero maus. No entanto, todos os dias que me foram dados viver estão acima e além do bem e do mal. Cada qual tem seu significado e sua beleza. Meus planos irão mudar. Às vezes os dias que chamo de maus acabam sendo bons. E há dias em que tudo parece sair de acordo com meus planos e acabam sendo um desastre.

Bom e mau. A vida não tem a ver apenas com o bom e o mau: está além disso. Quando começamos a entender isso, começamos a entender que é um privilégio estar vivo. É um privilégio diante do qual o coração precisa encher-se de gratidão. O que nos foi dado é muito mais precioso do que todo o bem e o mal juntos. Tudo isso é transitório.

Podemos conhecer aquilo que não é transitório, aquilo que estará presente enquanto estivermos vivos. Esse é o nosso alívio. Esse é o nosso porto. É aí que precisamos estar quando as tempestades vêm.

Prem Rawat


http://www.wopg.org/ http://www.palavrasdepaz.org.br/


Leia um trecho da palestra, veja o press release, as fotos e faça o download da versão em ingles impressa - http://tprf.org/newsletter/v1_i37/story_1.htm

Aquarelas de Sonia Madruga